Semanas após o contato com o pessoal do Pin Ups, Paulo recebeu uma ligação telefônica da baixista Alê convidando para que abrissem o show de lançamento do novo álbum dos Pin Ups (Scrabby!), no Aeroanta de São Paulo! Outro detalhe deixou os PINHEADS ainda mais ansiosos: poderiam descansar o esqueleto após o show, no apartamento do João Gordo!

Gaudêncio, Júlio, João, Paulo e Dudu - 1993
O primeiro show fora de Curitiba seria um batizado e tanto. Aeroanta de São Paulo abrindo para Gangrena Gasosa e Pin Ups (22 de agosto de 1993). Dudu iria tocar no mesmo palco no qual Jello Biafra estava um ano antes. O show foi legal. O bom público, conforme o esperado, não agitou como em Curitiba, mas a recepção foi boa. O som estava ótimo e recebiam aplausos após cada música. A educadíssima Alê já tinha pago o dinheiro das passagens e ainda deu um trocado simbólico para os PINHEADS (foi a única remuneração em show fora de Curitiba).

Dudu, Paulo e Júlio - Cartaz do primeiro show fora de Curitiba.
Mais importante que o show foram os contatos. Primo Renato (juntamente com Renatinho, Mendes e Gaudêncio) acompanhou o trio nessa viagem e disse para Dudu entregar o compacto para uma dupla que prestava atenção à apresentação dos Pin Ups. Eram Carlos Dias e André, integrantes do Tube Screamers.

Após o show, dormiram (juntamente com mais umas 10 pessoas) na sala do apartamento do João Gordo. João contou para os interessadíssimos curitibanos suas experiências em solo europeu cantando nos Ratos de Porão ou assistindo shows de bandas como Oi Polloi.
Gordo aproveitou para gravar um cd ao vivo do D.I. que a trupe curitibana tinha recém adquirido na Galeria do Rock. Em troca, liberou sua cedeteca para que fitas cassete fossem preenchidas com o supra-sumo do punk inglês. Dudu passou a noite em claro gravando Lurkers, The Boys, Rezillos, Adicts… enquanto isso, um integrante do Gangrena Gasosa copiava uma advanced tape (ainda não masterizada) com o futuro álbum do Sepultura (Chaos A.D.).
João Gordo também mostrou a gravação da coletânea que estava produzindo com as bandas I.M.L., Muzzarelas, Lethal Charge, No Violence e Kangaroos in Tilt. O final de semana tinha sido realmente agitado, pois no dia anterior foram ao lendário Der Temple assistir a um show do Safari Hamburguers.
Os PINHEADS foram à São Paulo pelo rock, para fazer show, para ver outros shows, pelo intercâmbio, para comprar novos álbuns. Eram bitolados em punk rock, e lamentavam o fato de alguns roqueiros locais e donos de loja de disco de Curitiba, irem à cidade em outubro de 93 para ver a turnê Dangerous do decadente Michael Jackson.

Roubada! Cancelado!
Uma apresentação no litoral paranaense foi agendada. Missionários, PINHEADS e um grupo chamado Bloqueio Mental se apresentariam no Riviera’s Snooker Bar, na praça central de Guaratuba. Com o cartaz pronto, o show foi cancelado dias antes.

Era hora de tocar e fazer mais música nova. Na noite de 18 de setembro, tocaram no Ghandja Bar (antigo Hell), ao lado dos Cervejas. A presença e reação do público continuavam excelente. Diversão para todos os lados. Nenhum cover no set list de 18 músicas.

Oh Ja abrindo, Plutoflipper´s fechando
O primeiro show no interior do Paraná foi em Apucarana, dia 25 de setembro. Tocaram numa boate chamada Kogumellu’s, numa festa de campeonato de skate. Lá conheceram os “punks” locais João Cabeção e Max Leean. Antes de andar de skate, no calçadão da cidade, visitaram a rádio local (Cultura 94.5 FM) para divulgar o show e falar uns palavrões leves ao vivo, para desespero do locutor de plantão.

Recorte do jornal Tribuna do Norte
A marca de surf wear Cruel Maniac ofereceu apoio para fazer as camisetas da banda e também forneceriam roupas para o trio. Sem pensar muito, aceitaram. Qualquer ajuda era bem vinda. Chegava a hora de tocar num lugar maior, e num domingo (24/10/93) agendaram um show no Syndicate. Era um espaço enorme, para mil pessoas, com uma boa área de street skate na entrada.
PINHEADS tocou pela primeira vez Forget The Problems e o cover da vez foi Living For Today, do Pennywise, ao lado de American Jesus. O número de pessoas era grande e os seguranças começaram a tratar com violência àquelas pessoas que subiam ao palco, ou que pogavam com mais energia. PINHEADS lançava um petardo atrás do outro, provocando o frenesi saudável da moçada.

Paulo dando aquela força para Dudu
Porém, o dono do local e os seguranças estavam numa vibração completamente oposta à dos roqueiros de cima ou de baixo do palco. Na sexta música (I Don´t Know Why) , do extenso set-list, os seguranças Pelé e Fabião (famosos lutadores de Vale-Tudo) empurraram com covardia o Serginho (irmão do Júlio) de cima do palco.
Foi o estopim para que os abusados Paulo e Júlio atacassem verbalmente os seguranças. O insano público se sentiu protegido, enquanto mais alguns compactos e camisetas dos Pinheads eram adquiridas por preços honestos. Na saída do palco, o clima ficou ruim. Será que os seguranças iriam tomar satisfações e partir para um não amistoso acerto de contas?

Vários rostos familiares em um pogo histórico no Syndicate
Nada aconteceu, felizmente. Paulo comenta a confusão:
“O Fabião era o maior batedor de Curitiba na época, campeão de chute boxe e o caralho a quatro. A fama de brutamontes do cara era enorme, apesar do fato de ele ter sido lobinho comigo no grupo escoteiro Tapejara, perto do Parque Barigui, nos anos 80. Escoteiros à parte, o cara realmente era muito grande e temido. No auge do stress do show do Syndicate, eu e o Júlio começamos a xingar os seguranças que estavam dando porrada na galera mais agitada do pogo. Desci a boca nos caras, e de repente senti um puxão na minha bermuda da Company, multicolorida, desejo de consumo de qualquer surfista no final dos anos 80.
Após arrebentar a minha bermuda, olho para ver quem puxou e vejo o tal Fabião que estava prestes a arrebentar minha cara. Chamei o cara (dá pra ouvir isso na gravação daquele show) meio que respeitando, pois ele estava junto com os seguranças. Na real, após o show, o cara acho que cansou de nos perseguir e foi buscar uma briga mais equilibrada pra ele naquela noite, pois, se quisesse, ia nos massacrar”.