O punk rock básico e o espírito hardcore

Todos os sábados ensaiavam na churrasqueira da casa do Dudu. Sempre surgia uma composição nova. Geralmente com Paulo e Júlio fazendo música e Paulo fazendo também as letras. Nessa leva vieram The Basic Rock, I Need You Tonight, Plastic Women e Nervous Days.

As músicas eram muito parecidas: todas tinham oooh’s and aaah’s nos backing vocals, as estruturas eram quatro por quatro. E baseadas naquela velha fórmula: estrofe, refrão, estrofe, refrão, ponte, refrão. Quanto às letras, a reclamação era geral.

Plastic Women alfinetava a mulherada: “Nowadays there are no organic women anymore/ Most of them are made of plastic/ They have more than one face, they don´t play fair/ They´re not made of meat and bones anymore…”. Nervous Days lamentava a rotina e tinha paciência com algum metaleiro no bar predileto: “…on Saturdays I go out, let´s drink some beer in China´s Bar/ I hear some headbangers saying that the punk rock is dead, I didn´t wanna fight…”.

Letra e música por Júlio e Paulo

Letra e música por Júlio e Paulo

Eles gostavam tanto de música que escreviam letras sobre música. Principalmente sobre como a espontaneidade e a simplicidade podiam lhes emocionar. As assobiáveis The Basic Rock e The Music´s ok tinham uma ingenuidade até meio irritante, mas cativavam pelo óbvio.

Letra inspirada na frase "the music´s ok when there´s more ideas than solos" de Jello Biafra

Letra inspirada na frase "the music´s ok when there´s more ideas than solos" de Jello Biafra

Dudu começava a rabiscar alguma coisa (já tinha escrito o refrão de Music´s ok de frase extraída de Chickenshit Conformist, dos Dead Kennedys). Inspirado na música Clean-cut American Kid, do grupo de skate rock californiano Ill Repute, escreveu a letra de Many-Side-Lad. Paulo gostou tanto que nem deu a chance e “coragem” para Dudu alertar que Many-Side-Lad continha algumas frases chupadas da música Clean-cut American Kid. Dudu prometeu para si mesmo que não mais roubaria idéias de suas bandas favoritas em suas futuras letras.

Meses antes, mais precisamente no mês de maio daquele ano de 1992, Dudu (juntamente com seu amigo Renato Robert) presenciou Jello Biafra em ação, no Aeroanta, de São Paulo. O vocalista dos Dead Kennedys esteve presente na festa de lançamento do livro Barulho (de André Barcinski), e deu uma canja ao lado dos caras do Sepultura e do Ratos de Porão. Dudu ficou impressionado!

Jello tinha uma presença de palco hipnotizante. Se jogava na platéia, discursava contra a ECO-92 e mandava balas como Holiday in Camboja, Drug Me e Bad (do Nomeansno). Dudu estava satisfeito com as sete primeiras composições dos PINHEADS, mas ficava meio perturbado e entediado, pois as músicas eram muito parecidas, tanto no ritmo, quanto nas estruturas. O baterista queria tocar hardcore também!

As próximas músicas dos PINHEADS teriam que ser mais rápidas. Júlio e, principalmente, Paulo, presentearam Dudu com três novas canções, que tinham partes rápidas: California, Death Is Not The End e Psycho Zone. O nunca 100% satisfeito baterista criticou Paulo pela letra de California; mas como tinha gostado bastante das novas músicas, deixou que ficasse por isso mesmo.

Na história dos PINHEADS, Dudu e, especialmente, Júlio, ajudaram bastante nas composições. Mas mesmo que Dudu escrevesse uma letra impecável, ou que Júlio compusesse uma música perfeita, Paulo estaria presente nos créditos. Paulo era, no mínimo, metade da banda. Era ele quem colocava harmonia nos vocais e, se fosse necessário, alterava um pouco a letra ou a música. Além disso, Paulo tinha créditos sobrando, afinal, era o principal compositor e o mais talentoso dos PINHEADS.

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Arquivado em 1992

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